quinta-feira, 14 de julho de 2022

Encenação da peça sobre o conto "O Osso", de Birago Diop

        Os estudantes do curso de Línguas e Literaturas Africanas da Faculdade de Humanidades da Universidade Agostinho Neto, encenaram uma peça com o título "O Osso", baseada no conto com o mesmo nome do escritor senegalês Birago Diop. Divididos em três grupos, falaram e mostraram o carácter de Morlame e Musa, os grandes protagonistas do texto. Cada um ambicionou ficar com o osso mesmo sendo irmãos de sangue que partilhavam tudo. Morlame preferiu morrer e Musa insistiu até que ficou com o osso e com a mulher do melhor amigo. Foi uma tarde de muitas risadas e reflexão por tudo aquilo que foi representado. 







sábado, 9 de julho de 2022

Os hóspedes do hotel B e o Ferro de Engomar

Seis horas e três minutos marcava o relógio da recepção quando a hóspede do quarto cento e catorze ligou. Meio sonolento e com poucas palavras o recepcionista rabiscou uns apontamentos no seu bloco de notas. Diligente anuiu com gestos de hesitação, fez umas perguntas e desligou o telefone. Tinha uma tarefa hercúlea para cumprir e não sabia como e nem por onde começar. Parado e sem reação por largos minutos meditava nas várias maneiras de colocar em prática o que lhe estava incumbido.Esperou exatos dez minutos, pegou no telefone e começou a ligar para todos os quartos acordando os seus ocupantes, perguntando pelo ferro de engomar. Afinal, a hóspede do quarto cento e catorze precisava do ferro para engomar a sua roupa, pois nesse dia, tinha uma apresentação e queria aparecer lá toda bonita como planeado, era uma reunião de executivos e nesses lugares a aparência conta muito. Arrumara a mala com cuidado dobrando toda a roupa aos pares.

Depois de uma viagem longa e cansativa, finalmente estava no seu quarto. Fez o chick in e escolheu o quarto mais afastado e reservado de todos, para poder descansar e terminar de escrever a apresentação para aquele encontro importante. Tinha tudo planeado na sua cabeça. Só estava à espera do tão ansiado momento que definiria a sua vida. Era um exagero, mas a hóspede do quarto cento e catorze vivia assim a vida, sempre ao limite. Tudo tinha de ser feito atempadamente com uma organização rigorosa, nada podia faltar ou estar fora do lugar.

Quando acordou do merecido descanso já tinha anoitecido e os outros hóspedes estavam à mesa a jantar, tendo se juntado a eles. Mesa farta e uma boa conversa fizeram a delícia de todos. Ainda na mesa, começava a delinear os seus próximos passos, como de costume. Terminou o jantar, despediu-se dos outros e dirigiu-se a recepção para levar emprestado o ferro de engomar, ao que foi informada que o mesmo se encontrava num dos quartos, mas ninguém sabia em qual porque tinham esquecido de fazer o registo. O recepcionista em serviço prometeu levar-lhe o ferro assim que o recuperasse.

Uma conversa desagradável para quem estava habituada a ter tudo controlado. Voltou ao quarto, desfez a mala e as roupas todas estavam amolgadas, precisava mesmo do ferro de engomar. As horas foram passando e lá perto da meio noite, a hóspede do quarto cento e catorze, ligou à recepção para saber do seu pedido e nada. Ainda não tinham recebido, do hóspede misterioso, o ferro de engomar. E tudo ficou para o dia seguinte. Uma situação irritante, visto que ela pretendia sair cedo, mas naquele momento nada podia fazer, a não ser, esperar.

Despertou em desesperou e frustração, pois precisava engomar a roupa, mas o hotel não lhe conseguia dar o ferro de engomar que se encontrava num dos quartos. Foi quando teve a ideia de acordar todos os hóspedes para perguntar com quem estava o ferro de engomar. Dada a esquisitice da situação, e pela hora (eram seis horas da manhã), a hóspede do quarto cento e catorze decidiu deixar essa batata quente nas mãos do recepcionista.

Acorde todos e peça o ferro de engomar. Ordenara ao pobre recepcionista. Passados alguns minutos batiam-lhe a porta. Era uma das hóspedes que lhe entregava o seu ferro de engomar. Sonolenta, disse-lhe que aquele era o seu ferro de viagem, andava sempre com ela na mala. Foi assim que a hóspede do quarto cento e catorze descobriu que o hotel não tinha ferro de engomar e que tinha de ter um ferro de viagem.